terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

o que os unia










a ausência, o silêncio e a falta










segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

correio










percorro as tuas mensagens todas até àquela em que dizes que te vais. leio repetidamente como uma criança decora o padre nosso, para que te mantre, para que interiorize os nossos caminhos opostos.
quanto mais te afastas mais te acolho em mim.











sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

se chegares








quando chegares, meu amor, será tarde. se chegares.
dir-te-ei - tanta vida esperei por ti que entranhei a tua ausência. as estações passaram e repetiram-se desde que te quis a primeira vez, o meu corpo cumpriu ciclos desde então, a minha pele sonhou vezes demais com a tua e os meus olhos demoraram-se tanto na ânsia dos teus que se alojaram no vazio de não os ver.
é tarde. quando durmo, já ocupo os dois lados da cama, quando brindo, é a mim mesma que brindo, e se danço, vejo-me só em frente ao espelho. nunca pousei a cabeça no teu ombro nem as minhas mãos se colaram às tuas. a minha praia será para sempre apenas a minha praia e não partilharei contigo o banco do jardim em frente ao rio.
se um dia chegares, meu amor, será tarde. já terei acordado de todas as noites mal dormidas, sozinha, já terei adormecido vezes demais sem ti, já terei viajado tanto sem sair do lugar. já terei secado, meu amor, o meu amor, como uma mãe seca o leite dos seus seios para que não lhe doa.
se algum dia chegares.













quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

ao contrário







eu ia dizer 'ele quer-me', mas não é verdade. na verdade, ele tolera-me porque sabe que não irei no seu encalço, não me desviarei do meu caminho para estar com ele. por isso ele tolera-me e temos uma convivência alegre e solta. o que não podemos ter é o que nos une - o que não vemos, o que não tocamos, o espaço que não ocupamos um no outro.

a possibilidade de o ter faria com que o perdesse. assim, vivo ao contrário, tendo-o não o tendo.















domingo, 19 de fevereiro de 2017

longe







quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que vivi longe de ti.

a partir de sophia









sábado, 18 de fevereiro de 2017

preço












sabia que tê-lo um momento, lhe custaria vê-lo partir com ela para sempre.









sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

de mim











verás a minha nudez antes de me veres a mim. 
lentamente entrego-te as roupas, as dores, as alegrias, os medos, a confiança, a fé, a magia, a infância, as lágrimas, o riso, o sono, o espanto, o trabalho, o repouso, a doença, a saúde, o mar, a chuva, o sonho.
chegarei a ti nua.















quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

sobre nós









eu sou-lhe fiel porque não sei ser de outra maneira
ele é-lhe fiel porque não sabe ser de outra maneira











quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

sobre ele









se fecho os olhos, ele está em todo o lado
se abro os olhos, não o vejo em lado nenhum









segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

como hoje










há dias em que acordo com a pressão do teu corpo no meu. como hoje, em que sinto as tuas mãos brandas na minha pele, espaços vazios preenchidos por ti.
estás aqui, mesmo estando aí.
vivo-te em memórias de vidas passadas, em reencontros onde os braços são apenas os meus, onde não me vejo reflectida nos teus olhos, e os meus dedos não tocam os teus. mas as lembranças de ti latejam em lugares onde nunca estiveste. 
como hoje.










domingo, 12 de fevereiro de 2017

2393












subitamente, as palavras com que se confortara meses a fio, reagruparam-se de maneira a rasgarem a sua carne por baixo das costelas até três dedos abaixo do umbigo. 
sempre soubera do significado dos espaços em branco. nunca supusera a dor. 













sábado, 11 de fevereiro de 2017

brincas







percorro com o dedo da mão esquerda, a pele da minha mão direita tentando adivinhar a que sente o teu toque, como se fosse possível o acariciado sentir-se simultaneamente acariciador.

languidamente guardo as tuas palavras nos recantos do corpo, onde criam torrentes de de urgências indisíveis. 

tu sabes tão bem.










quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

nem me movo









O silêncio é quase absoluto
A quietude respira-se lentamente
O azul do céu é monocromático, brilhante
Os ramos das arvores estão imoveis
Nem a gaivota faz tenções de voar, pousada no topo da capela

Eu fico quieta sentindo o perfume do meu cabelo caído diante dos olhos

Nada acontecerá
A vida está em pausa
O tempo recusa passar

Até que venhas












segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

desconstruçao







dispo cada pedaço de corpo onde não te vejo.








domingo, 5 de fevereiro de 2017

à margem










li há uns dias, na caixa de comentários do pipoco, que a 'vida' dos blogues passa-se sobretudo nas caixas de emails.
acho que desde aí, o meu interesse em lê-los desceu uns noventa por cento.











sábado, 4 de fevereiro de 2017

final do dia









chego 
procuro-te
largo a mochila
procuro-te
dispo o casaco
procuro-te
descalço-me
procuro-te
dispo-me
procuro-te
preparo o jantar
procuro-te
tomo um vinho
procuro-te
acendo a lareira
procuro-te
procuro-te
procuro-te
disseste-me olá, que deus me proteja e saíste
procuro-te
deito-me sem ti
acordo sem ti
tudo sem ti
a vida sem ti
o futuro sem ti
eu sem ti







quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

envelheço longe de ti








a tua pele na minha, antes que o desejo morra, antes que o tempo nos leve.