sexta-feira, 31 de março de 2017

por favor








empurra-me para dentro da minha vida. não me deixes ficar aqui, na ombreira da tua. faz frio, muito frio.










terça-feira, 28 de março de 2017

simultâneos









ele fala comigo enquanto ela conta-me sobre ele enquanto fala com ele.
eu sou a peça que se altera.
ele permanece o mesmo.
ela permanece a mesma.
as palavras que ele me diz não deixam de ser as palavras que ele me diz.











sábado, 25 de março de 2017

falta







só percebi como o trazia em mim, quando ao partir, fiquei com o corpo em carne viva.









quinta-feira, 23 de março de 2017

bastos nadas








dizem que é aos poucos que morre um amor.
mas basta um gesto, uma palavra, um silêncio.
basta o sonho, basta o acordar dele.
basta a ilusão, a desilusão.
basta o nada.
o nada.
nada.










domingo, 19 de março de 2017

há vinte anos










sinto o sexo túrgido dele, enquanto me abraça. aceito o abraço e tento criar um espaço que não existe entre os nossos corpos para me livrar daquele desconforto, daquela repulsa.
há vinte anos que ele é apaixonado por mim. há vinte anos que eu me esquivo, escudada pelo casamento dele. há vinte anos que sei que a um sinal meu ele largaria a sua família equilibrada e tradicional.
há vinte anos que aquele homem defende-me acerrimamente de todas injustiças, e há vinte anos que o rejeito. 










sexta-feira, 17 de março de 2017

não partirás










não precisarei nunca de esquecer o teu rosto, o sussurro quente da tua voz na minha nuca, o toque da tua pele no meu corpo, o beijo húmido da tua boca, a tua mão pousada na minha, o riso, o riso, o riso.
nem o momento da partida me magoará.














quinta-feira, 16 de março de 2017

tempo









o corpo passeia-se num burburinho mudo. 
em cada grão de areia exposto ao sol, 
a cada vista de céu azul, 
a cada quebrar branco de onda do mar, 
a cada brisa de vento fresco. 
ele está em todo o lado. 
neste regresso solitário. 
nesta sala cheia de querer. 
neste tempo que se esgota.








segunda-feira, 13 de março de 2017

e depois?








a verdade, sabe, é que eu queria a oportunidade de poder não o amar. para poder seguir com a minha vida, percebe? todos os dias ensaio o pedido, todos, e só de saber que acederia, estremeço. é que eu vivo presa a um sonho e há dias que nem sei onde a realidade começa ou acaba. 










sábado, 11 de março de 2017

memória









retrocedo aos dias antes dele para saber como é a vida sem ele.









quinta-feira, 9 de março de 2017

foi num dia de azul sol










ele cobre-me de beijos, enfeita-me com plumas, perfuma a casa com rosas, recua lentamente para a porta, e sai, suavemente, para que eu não me magoe.
para que ele não se magoe, só depois de ele sair é que me dispo dos beijos, livro-me das plumas, abro as janelas, saio para a rua, e procuro por mim.









terça-feira, 7 de março de 2017

dia internacional da mulher








o homem trazia o fogo, a mulher mantinha-o aceso.








segunda-feira, 6 de março de 2017

sábado, 4 de março de 2017

chove









a cada pinga que cai, a chuva diz o teu nome











quinta-feira, 2 de março de 2017

direcções












Ele nunca vai gostar de mim, estou certa disso, nunca vai desviar um quilómetro do seu caminho nem dispensar 20 minutos do seu tempo. É verdade. Nem a curiosidade o move, e olha que ele é muito curioso. Vejo o partir em muitas direcções e até já pensei fazer-me de esbarrada numa esquina qualquer, mas depois, olho para este corpo a perder o viço, a minha intelectualidade tão longe da dele, e nem sei o que teria para lhe dar, a não ser restos de muita vida, e ninguém gosta de restos. Então deixo me ficar, vendo-o partir em todas as direcções, de longe.