sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

perdida nas folhas






Ele cobriu a minha nudez com pétalas frescas. 
Todas as noites retirava metodicamente algumas. 
No primeiro dia, retirou as do pescoço, depois as dos ombros, de seguida as dos seios, e assim até me ter completamente nua. 
As pétalas, ele guardou-as nos livros de poemas. O pescoço no eugenio, os ombros no pessoa, os seios no herberto, o coração na fiama, o ventre no al berto, o sexo na maria teresa horta, as pernas no Gedeão e os pés no manoel de barros. 
Foi assim que aprendi a amar-me.
Quando entristecia, abria um livro e regressava a ele, que me ensinou que a pele é poesia e pode ser sonhada.
Quando me perguntam quem sou, agora sei que sou poema e estou retalhada, dividida entre as páginas dos livros dele.