domingo, 7 de janeiro de 2018

perdi-lhe o jeito




a verdade é que lhe perdi o jeito. sinto-o. foi preciso muito pouco tempo, apenas o tempo de descurar a pontuação numa frase sem importância e os meus dedos hesitam entre um ponto e uma reticência, ou sem saber como percorrer os seus cabelos prateados, que é o mesmo que tentar escrever poemas.
perdi-lhe o jeito.
já não sei onde colocar o riso nem a maciez dos lábios num sussurro. perdi-lhe o jeito, perdi-lhe a mão. já nem a minha pele encosta na dele e os meus poros já não se exaltam com a ideia da proximidade dos poros dele. já não sei passear-me pelo seu corpo e o pudor ocupou o lugar da entrega no meu olhar, quando o olho, cada vez menos.
perdi-lhe o jeito.
os textos voltaram a ser um conjunto de palavras e os quadros uma porção de cores. os dias são apenas 24 horas e as árvores deixaram de falar o que ele cala. 
agora a noite caiu e perdi-lhe o jeito.