terça-feira, 31 de janeiro de 2017

gosto de ti








mas a verdade é que não cabes na minha vida, é uma questão de logística.
acordo a meio da noite e a pele chama por ti, com dor. tento preencher a falta do teu toque, percorrendo o corpo com as minhas mãos, fingindo que são tuas - primeiro as pernas, depois os pés, numa tentativa de acalmar o latejar que sinto do peso dos dias, da vida.

canelas canelas que o teu pai é delas, diziam os miúdos, enquanto, no tempo da escola primária, atiravam pedras às pernas das raparigas. passaram-se mais de quarenta anos e ainda as pernas se lembram do grito. da urgência da fuga.
quanto tempo durará em mim a ausência de ti, enquanto o inverno chove?