domingo, 1 de janeiro de 2017

o casaco









visto um casaco quente, cor de meia-de-leite. esta cor fica-me mal, mas a lã é grossa e rente ao corpo, aquece os desencontros que me gelam.
olho ao longe as nuvens que prometem que se cumpram as previsões de chuva para amanhã, e enrosco-me no sofá.

é o primeiro dia do ano e tu nunca deixarás de estar longe.

sinto-me tentada a desistir do esforço de me conciliar com a outra de mim, aquela que se comporta, aquela que se ri, aquela que se adequa, aquela que é generosa. afinal de contas é domingo, é feriado, estou só, e posso ser fraca. 
a verdade é que está frio, o tempo escoa, o corpo envelhece, o desejo some-se, e tudo o que se pode desejar é um casaco de lã, cor de meia-de-leite, rente ao corpo sem voz.