sexta-feira, 13 de maio de 2016

espesso















há momentos que deixam uma tristeza espessa dentro do peito. é assim como se esse sentimento formasse corpo dentro do nosso corpo e crescesse. então esse outro corpo dentro de nós vai tomando a forma dos nossos braços e pernas e sobe também pelas costas, pelo pescoço, até à cabeça. e tudo dói de uma dor de náusea, e o corpo verga. e eu, sentada nesta cadeira, sinto que o meu peito quer encostar-se nas minhas pernas, talvez numa tentativa de pedir colo a elas, mas fica só uma dor na curva a que obriga o corpo quase tombar sobre si mesmo.

e o que entra assim, corpo dentro é desilusão. é tempo dedicado em vão, é como se colocássemos todo o cuidado numa prenda que seria rejeitada, depois. só que essa dedicação é sangue, é carne, é suor, é vida.

e são tristezas que nos apanham assim desprevenidos. até está um dia de sol, bonito, e estamos alegre, e, de repente, vem uma palavra, um olhar distante. e basta. fica o corpo todo apanhadinho por dentro, por aquela coisa, e então dá uma vontade de sair por aí fora sem destino, e voltar, se voltar for destino.

são tristezas de sangue. do nosso. as que mais doem. quais amores, quais desamores, quais saudades, quais faltas, quais distâncias. são os olhares do nosso sangue, os que mais entristecem. ou não.

e eu, como de costume, fico sentada a tentar perceber o que tenho aqui para aprender. e nunca aprendo.