segunda-feira, 31 de outubro de 2016

quieta







quieta.
fico quieta, sentindo a minha respiração.
faltas-me.
se eu ficar quieta o tempo suficiente sentindo a minha respiração, deixarás de faltar-me, dizem.
faltas-me e o meu peito arde por dentro, enquanto fico quieta e sinto a minha respiração.
doem-me os braços com a ausência do teu corpo.
e fico quieta.
dói-me o corpo com as palavras que não te digo.
quieta.












quinta-feira, 27 de outubro de 2016

inutilmente







A mulher ​suspeitou do que sentia, quando nos momentos em que lhe assolava o vício da solidão, desejava-o a seu lado.








terça-feira, 25 de outubro de 2016

sem que me vejas












assim como o mar reflecte a cor do céu, das nuvens, da profundeza das águas, assim eu verto o meu olhar nele, para aí chegar.











sábado, 22 de outubro de 2016

estações












o melhor que ele me deixou, foi este não esperar.
olho as aves, o vento, as folhas que esvoaçam, as marés. nada espero, tudo existe, tudo volta, a seu tempo.
como ele.
como eu.













sexta-feira, 21 de outubro de 2016

acordo e








o silêncio é interrompido de vez em quando por uma pinga do chuveiro ou de algum carro que passa na rua.

há dias em que todas as ausências convergem num ponto só, num lugar profundo de mim, com a crueldade do violador.











terça-feira, 18 de outubro de 2016

serenidade












Ficaria o dia todo a ver a chuva cair, calma silenciosa obliqua, sobre a ramada da glicínia que mostra os últimos cachos de flores lilases.

Tornaste os meus dias maiores e mais serenos.
Não te disse que sou de paixões e tempestades?









sábado, 15 de outubro de 2016

quilómetros












ao deixarem de falar a mesma linguagem, a distância entre eles crescia a cada pensamento sem reflexo












quinta-feira, 13 de outubro de 2016

tu sabes











tu foste a mão de borges, eu a areia, a minha vida, o deserto.












quarta-feira, 12 de outubro de 2016

calma










acordo e já não penso em ti. 
apagas-te devagar. 
lembro-me do tempo em que te trazia escrito em cada arrepio da pele. dizias 'por todos os poros', e eu não te confessava que sim, 'por todos os poros'. mas eras, em tudo, no céu, nas flores, nas árvores. lembras-te do jacarandá e da laranjeira que brincava com as estações? ah, tudo se me apaga da memória à medida que docemente te afastas. 
tento lembrar-me do antes do agora, e fica sempre um sabor amargo a desperdício e uma crescente incapacidade futura.  
sento-me em frente a este ecrã frio e sinto uma calma que não queria.












terça-feira, 11 de outubro de 2016

tu









desencontro-te.
desencontro-me.
esquecendo-te, desconheço-me.

és a árvore que dá voz ao vento.









sábado, 8 de outubro de 2016

do azul










até o azul do mar perdeu a tonalidade, desde que deixei de te dizer 'o mar está pintado com o teu azul'.
porque azul, eras tu, com todas as variantes, em ti.










segunda-feira, 3 de outubro de 2016

além de mim












pergunto-me sobre o que restará no lugar, agora vazio, e onde antes havia tudo.