terça-feira, 5 de julho de 2016

quase













tens um modo silencioso de me deixar.
tenho um modo silencioso de te deixar partir.
quase não daríamos um pelo outro, se não fosse este querer gritante debaixo da pele dos corpos mudos.












countdown














deixo-me ficar assim. sabendo que é quando me queres na tua vida, enquanto me queres. não me interessa. fico, enquanto eu quiser. 
toco-te desta forma longinqua, arranco-te sorrisos, aligeiro-te os dias.
um dia não estarás aí.
um dia não estarei cá.










segunda-feira, 4 de julho de 2016

inacontecer














Ela diz que é o contrário, que ela não pode esquecê-lo, que a partir do momento em que não se passa nada entre eles, fica a memória infernal daquilo que não acontece.

marguerite duras


















manhã













acordo o meu corpo ainda cansado.
em silêncio, consentes-me abrigo e alimento.
reconstruo-me na tua quietude, sem que o saibas.













domingo, 3 de julho de 2016

estilhaços














leio a frase que tenho aqui ao lado. 'E é nos estilhaços dessa desintegração que, voltando a juntá-los, se pode descobrir quem somos.'. de alguma forma traz-me paz.
disse-lhe que não.
o meu corpo poderá envelhecer só.
toda a noite sonhei com comboios que não apanhei e com o carro que não encontrei, para regressar, só, a minha casa, ou a mim. sonho meu, espelho da minha vida.
quem sabe, dos estilhaços sobre alguma coisa reconstruível. quem sabe.
















sexta-feira, 1 de julho de 2016

antes que seja tarde











Nunca a palavra tranquilidade, repetida tantas vezes na boca dele, me enervou tanto.

Eu quero tocar muito antes de tocar de verdade, quero adivinhar-te o sabor, o ritmo, quero escutar as palavras no teu silêncio e ver o meu mar naquele lugar mesmo atrás dos teus olhos. Quero o ondular das folhas que a toda a hora vejo na minha janela, no teu corpo, no meu corpo. Quero a recordação mais antiga do que esta vida, do toque da tua mão, do roçar no teu corpo, da textura da tua boca, do teu corpo no meu corpo. Fusão de pele.
Não quero a tranquilidade.


Quero o repouso em ti.













ter












abro mão do que tenho para ter-te não te tendo. assim.